Você me dá sua palavra?,1994. Élida Tessler. Mediação por Daniela Rezende

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Élida Tessler, “Você me dá sua palavra?”, instalação, obra em andamento.


A MEDIAÇÃO COMO PRODUÇÃO POÉTICA
por Daniela Rezende


Élida Tessler (1961) é uma artista plástica e professora brasileira, nascida em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Sua pesquisa e produção artística gira em torno das questões que envolvem a arte e a literatura, no limiar da palavra escrita com a imagem e outras criações visuais.

“Você me dá sua palavra?” é um trabalho em andamento, iniciado no ano de 1994. De acordo com o site da artista: “O processo consiste em solicitar às mais diversas pessoas que escrevam uma palavra de sua escolha sobre um prendedor de roupas de madeira. Todos os prendedores estão fixados em único fio de varal. A medida que o tempo passa, aumenta o número de prendedores de roupa, como uma espécie de calendário. A cada instalação, o fio de varal é fixado de modo diferente, sempre mantendo a sua unidade linear” (http://www.elidatessler.com/).


http://www.bolsadearte.com.br/site/imagesdin/167_ET.jpg

Élida Tessler, “Você me dá sua palavra?”, instalação, obra em andamento.


Antes de participar da obra e oferecer nossas palavras para a artista, vamos brincar um pouco com elas? Vamos fazer alguns exercícios e experimentações com as palavras?


Exercícios com as palavras:
1. Cartografia das palavras:

– Escolha uma palavra de sua preferência e a escreva no papel;

– Pense em outras palavras que se relacionam à palavra escolhida por você (por sentido ou significado, mas também por meio da forma e do som das palavras) e organize essas expressões junto à palavra inicial (você pode usar vários modelos para isso, por exemplo, flechas, linhas, círculos e outros símbolos para criar mapas, diagramas e cartografias);

– Continue o processo ao infinito ou até você achar que a cartografia está pronta;

– Voilà!

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Cartografia possível da palavra “mulher”

2. As palavras e as listas:

– Escolha uma palavra de sua preferência, mas não a escreva no papel;

– Pense em várias formas de explicar o que a palavra escolhida significa ou quer dizer, mas sem que se possa apresentar a palavra escolhida (por exemplo, como explicar o que é a “água” ou falar sobre ela, sem jamais usar a palavra “água”?). Você também pode usar desenhos e imagens nesse processo;

– Organize e escreva no papel o resultado das várias definições de sua “não-palavra” em forma de lista;

– Lembre que uma lista pode ter várias formas!

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Lista possível da palavra “água” 

Algumas considerações:
1. As palavras, antes mesmo de serem palavras, são sons na boca e desenhos no papel. E nenhum desses sons e desenhos são iguais; eles variam, sempre, de pessoa para pessoa;

2. As palavras constroem e moldam as formas pelas quais as pessoas vêem o mundo. Isso é visto no caso de pessoas que falam línguas diferentes (por exemplo, o português e o inglês), mas também no caso de pessoas que falam a mesma língua, mas com variações de todos os tipos (de cunho regional, social, geracional, de gênero, etc). Isso quer dizer que o mundo vivido e comunicado em palavras por um homem jovem, branco e rico é radicalmente diferente do mundo vivido e comunicado em palavras por uma mulher idosa, negra e pobre;

3. As palavras têm poder. Assim, há uma responsabilidade em nos apropriarmos das palavras dos outros. E há uma verdadeira revolução em nos apropriarmos das nossas próprias palavras.

4. Por fim: as palavras escritas não são acessíveis para todos. Segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2018 há, aproximadamente, 11,3 milhões de pessoas no Brasil que não sabem ler, nem escrever. Nessa conta, se for considerado o “analfabetismo funcional”, esse índice sobe para 29% da população – quase um terço dos brasileiros.

Agora, voltando à proposta de Élida Tessler, quais são as suas palavras? Qual palavra você daria para a artista?


Mais referências e ideias de exercícios com as palavras:
ALMANAQUE REBOLADO, Rio de Janeiro, 2017. Publicação da Oficina Experimental de Poesia (OEP).
BERNADETTE MAYER, “Experiências”, Revista Grampo Canoa (Luna Parque Edições), n. 2, 2016, p. 4-8. Disponível em: https://www.lunaparque.com.br/grampo-canoa.
ÉLIDA TESSLER (site): http://www.elidatessler.com/

Comentários

  1. Adorei essa conversa e essa forma de mediar a obra , me senti muito motivada a brincar com as palavras, conforme você propõe! A forma como você trouxe a discussão me fez refletir sobre a palavra, o ser humano, a política, tudo. Obrigada

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