Educação Museal, Educação Patrimonial, Mediação, Arte-educação: refletindo sobre os termos e os usos


É muito comum escutarmos os termos educador museal, educador patrimonial, arte-educador ou mediador no mesmo contexto semântico na atuação nos museus e nas discussões sobre o tema. Afinal, esses termos se referem ao mesmo profissional? À mesma categoria? Ao mesmo trabalho prático? À mesma discussão teórica?

O quanto esses termos se aproximam ou se distanciam?

Esse pequeno ensaio não pretende fazer um apanhado histórico sobre esses termos e seus usos. Já existem excelentes textos que tratam do assunto, deixarei algumas indicações como referência. Mas ele pretende abrir para reflexão, como nós, profissionais da educação que atuam em museus, usamos e entendemos essas “categorias”.

Nos é útil para iniciar essa conversa entender o que compõe o trabalho de educação em museus, para museus e com os museus. Embora pareçam a mesma coisa não são.

Percebemos que dentro dessas caixinhas, existem inúmeras possibilidades de entender a prática e a reflexão metodológica do fazer. Educação museal, portanto, hoje assume o léxico mais adequado para se referir ao conjunto de práticas e teorias que circundam o trabalho do educador no ambiente museológico, porque de certa forma, educação museal envolve uma série de ações como: pesquisa, experimentação, metodologias, didáticas, práticas de recepção, práticas de abordagem, conhecimentos específicos sobre acervos, conhecimentos específicos sobre recortes curatoriais e por aí vai. Isso só pra citar o que vem à cabeça num primeiro momento.

Dessa forma, o educador museal pode se utilizar da técnica da mediação como abordagem de construção de sentido, ou como construção coletiva de conhecimento sobre um determinado objeto. Mas ele não se limita à mediação como único recurso possível. A mediação pode ser entendida como uma “ferramenta” importante no processo de aproximação sensorial (visual, auditiva, gustativa e etc.), entre sujeitos e objetos no ambiente museal.

Com isso nós podemos entender o porquê de “mediador” por si só não ser capaz de definir o nosso fazer. No entanto, “educador” apenas, também não dá conta, tendo em vista que o educador, de forma genérica, atua em diversos ambientes (institucionais, formais, não-formais, extrainstitucionais e etc). Quando falamos educador, estamos deixando a possibilidade bastante ampla de significados para aquele fazer. Quando juntamos a função “educador” com o ambiente ou o território “museal”, estamos delimitando a atuação de profissional dentro de um universo epistemológico próprio. O educador museal é diferente, por exemplo, do arte-educador, pois nem todos os museus são de arte (evidentemente), e nem todo arte-educador trabalha em museus especificamente. Assim como, quando falamos mediador, não estamos dando um recorte específico de qual ambiente/território ou objeto/sujeito aquele profissional está inserido. Mediador de quê, onde, para quem? 

Além disso, podemos pensar de que forma esses termos contribuem ou não para o fortalecimento do trabalho desenvolvido ao longo do processo histórico. Existe uma discussão sobre como esse profissional vai se estabelecendo como necessidade nas instituições museais, e como isso se articula com as lutas por acesso, democratização e educação (de forma ampla).

Por isso, quando falamos Educação com Museus, estamos falando da possibilidade de utilizar o museu como um ambiente de construção da relação ensino-aprendizagem, normalmente isso se relaciona com a dupla museu - escola. Quando falamos Educação para Museus, estamos pensando quais relações de ensino-aprendizagem podem reafirmar a existência dos museus e sua função educativa. Em contrapartida, quando pensamos Educação em Museus, estamos falando de quais relações próprias do ambiente museal podem ser desenvolvidos enquanto processos educativos, uma educação articulada com a função museológica da comunicação. Nesse sentido, a educação museal está no seu próprio universo epistemológico, não utiliza o museu como uma ilustração de acúmulo de conhecimento, mas o museu é o objeto da relação educativa. Além da confusão entre esses termos, existe ainda a diferença entre o educador patrimonial e o educador museal. Uma vez que o educador patrimonial não está, especificamente ou necessariamente, atuando no ambiente museológico, embora ele também possa. O educador museal, dessa forma, também pode atuar na relação com o patrimônio, porém, necessariamente num ambiente museológico (o que não significa que esse educador só possa fazer isso dentro da instituição, pois há processos de musealização que não estão dentro de museus). 

Essa discussão é muito melhor abordada em outros textos e referências, nesse espaço apenas colocamos algumas questões importantes às quais podemos nos debruçar sobre o uso dos termos.

Importante ressaltar, que isso não invalida o uso do termo mediação para abordar a técnica e a sua prática. A mediação é um importante recurso no fazer cotidiano dos educadores museais, e pode ser utilizada não só em relação aos museus de arte. A mediação é ferramenta, método, e por isso é tão importante que discutamos sobre ela, pois é a partir do estudo e desenvolvimento de métodos que legitimamos nosso fazer no campo científico, consolidando, assim, nossas pautas e demandas no campo político.

Referências sobre essa discussão (todas elas são bem fáceis de achar na internet)

- Uma referência super recente, que traz uma abordagem parecida (com algumas discordâncias) com a que mostramos aqui, sobre os termos educação museal e mediação:

CHIOVATTO, Milene. Educação Museal e Definição de Museu: Construindo Conceitos. In: Série Cadernos FLACSO, nº 16. 2020.

- Esse texto aqui ajuda demais a entender a história da educação museal. A pesquisadora Fernanda Castro é fera nesse assunto, procurem coisas dela como referência:

CASTRO, Fernanda. CONSTRUINDO O CAMPO DA EDUCAÇÃO MUSEAL: um passeio pelas políticas públicas de museus no Brasil e em Portugal. Tese de doutoramento. Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense. 2018.

- Esse é mais antigo, mas traz questões muito relevantes para pensarmos a questão da mediação, na arte-contemporânea, e o lugar (problemático) da mediação enquanto instrumento de marketing nos museus e instituições culturais: 

Honorato, C. (2007). Expondo a mediação educacional: questões sobre educação, arte contemporânea e política . ARS (São Paulo), 5(9), 116-127.

- E por último indico esse de Ana Mae Barbosa, porque ela é uma pesquisadora clássica nos estudos sobre arte-educação. Esse artigo é mais recente, e aborda as questões históricas das transformações da educação em museus:

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