Meta(o)dologia 2 - Olhando, cheirando, ouvindo. Uma paisagem total e imaginada

Olhando, cheirando, ouvindo. Uma paisagem total e imaginada

Ao me dedicar ao trabalhamento de fazer mediação, no conforto do balançar da minha rede, senti o cheiro de um café sendo coado. Esse cheiro me remeteu a uma imagem, de um horizonte que já tinha visto, e não era de lugar nenhum, ao menos não encontrava correspondência na natureza. Era uma obra de arte, que tinha visto numa exposição que trabalhei em 2013. Não me lembrava o nome da(o) artista, nem da obra. Mas lembrava de todas as nuances daquele horizonte. Me lembro da sua imagem. Entendi que aquela obra merecia ser mediada pra mim, ou melhor, merecia ser entendida enquanto mediação, porque ela já tinha sido mediada pelo cheiro do café.
Então me dediquei à caça do reencontro com ela. Uma coincidência impressionante: em 2013 tinha fotografado algumas obras da exposição que trabalhava pelo celular e postado no facebook. E exatamente no dia 11 de maio, quando me ocorreu essa lembrança, a rede social me lembrou dessas fotografias, há 7 anos atrás. Era essa a obra.
Então, fui recolhendo os pedaços de pão na trilha inversa, para me achar na obra e achá-la na internet.
O reencontro, nesse mesmo dia 11 de maio, só que agora em 2020, foi uma comoção. 
Decidi então: olhar para essa obra pelo nariz. A partir disso criei os processos. O primeiro diz respeito à identificação de como eu olhei para essa paisagem (pelo nariz, pela boca, pelos olhos...). Deixei aberto para o mediado fazer sua entrada. O segundo processo disse respeito sobre as paisagens secundárias criadas a partir dessa primeira, como forma de fornecer um conjunto de imagens possíveis a partir da observação. O terceiro processo se fez necessário, porque ambas as imagens recorridas foram imaginadas, lugares inexistentes na natureza, existentes apenas na criação. Encerrei com vontade de continuar. Mas parei, porque não haveria fim.
Para entender a relação da mediação de paisagens recorri a um texto de Ana Carmem Nogueira, "Quem já viu o vento?", no livro "Repensar juntos a mediação Cultural" (referência disponível no fim do texto). Esse texto me ajudou a compreender o olhar para paisagens reais e imaginadas, e a totalidade arrebatadora que uma paisagem pode surtir no observador. Quase como a criação de um universo paralelo de imagens e sensações.
Com isso organizei os processos que me atravessaram no momento em que fui mediada pelo cheiro do café, pela obra de Anete Ring, pelo vulcão imaginado por Ismael Monticelli e pelo ato de sistematizar os pontos. Criei o vídeo do café sendo coado, como uma tentativa de evocar essa imagem (pelo cheiro) e exercitar a atividade proposta. No meio da feitura do vídeo, me deparei com uma pergunta: só se cheira com o nariz? Fazer o vídeo virou uma retroalimentação em relação às imagens mediadas. Como disse anteriormente, nunca haveria um fim.

Para ver a mediação da obra de Anete Ring clique aqui

Reflexões Primárias

cheiro do café.
A paisagem é real?
logo lembrei de Ismael Monticelli - o deserto dos tártaros, por causa da paisagem formada pelo café sendo coado
A imagem da obra e o café sendo coado, me levaram para Ismael.
A obra que está sendo mediada, então, é qual?

Referências

https://www.ismaelmonticelli.com/monumento
https://www.mvarte.com.br/cv-anete-ring
https://www.arterix.com.br/anete-ring
https://www.guiadasartes.com.br/anete-ring/arte-de
NOGUEIRA, Ana Carmem. “Quem já viu o vento?”. In: Pensar juntos a mediação cultural:[entre]laçando experiências e conceitos. Org. Miriam Celeste Martins. Grupo de Pesquisa em Mediação Cultural. Ed. Terracota, 2014.

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