Qué hacen ellas mientras ellos trabajan?, 1970. Clemencia Lucena. Mediação por Lorrane Campos

Trabalho e arte: um primeiro momento de perguntas.


O que é trabalhar? Quem trabalha? Quais são os rostos que imaginamos de quem trabalha? Dá pra pensar em arte enquanto trabalhamos? Que obra artística vem a sua cabeça de primeira? “artistas e artes oficiais”. Como podemos alargar essa noção de arte? Com qual obra eu posso conversar com as pessoas sobre o tema? 2 artistas cubanas, um trabalho da moça da Noruega, a artista de Manizales, a representação do trabalho ligada a figura masculina. 

Uma arte que dialogue com as pessoas


Imagem 1: Clemencia Lucena

(Manizales, Colômbia, 1945 - Cali, Colômbia, 1983).
Clemencia foi uma pintora e crítica de arte. O trabalho dela se destacou entre os anos de 1960- 1970, em especial porque a artista buscava o questionamento do que era arte, ou seja, o que era assumido como legítimo dentro do campo artístico, seja em sua produção, o que estava representado nestas imagens, assim como a comercialização dos mesmos. Clemencia acreditava que “as artes plásticas na Colômbia estavam representadas em três vertentes, mas que em geral era constituída por artistas oficiais, protegidos por classes dominantes e pelo Estado e dependentes deles e dedicava-se a decorar seus salões e ‘viver do seu bolso’. Destacava que nesse grupo também havia indivíduos conscientes do seu papel, mas que também e especialmente havia os indiferentes, cínicos, oportunistas, comerciantes que colaboram "na paródia desastrosa do sistema imperante" (Lucena, 1984, p. 51)
Como fazer o diálogo do trabalho da Lucena com as pessoas?

Obra: Qué hacen ellas mientras ellos trabajan? (1970) / O que elas fazem enquanto eles trabalham?



Na década de 1960 e início dos anos 1970 o trabalho de Lucena dedicava-se a fazer paródias da seção de jornais sobre as idas e vindas das classes altas, além de pautar questões centrais sobre o lugar das mulheres na sociedade burguesa. Já as imagens que ela produziu na o final dos anos 1970, estão paralelamente alinhadas à militância no Movimento Operário Independente Revolucionário Maoista, conhecido como MOIR, e o papel da luta revolucionária. Assim, nesta década, a artista representou mulheres que estavam em greve, mas que ao mesmo tempo estavam envolvidas na culinária de homens desempregados. “A luta feminista foi apagada dentro de outra luta na qual as mulheres receberam o papel de criar a família revolucionária.”

A imagem é um desenho das mulheres que Lucena conheceu enquanto militante em movimentos de esquerda na Colômbia. Destas situações capturava tonalidades, dimensões que ela recriava em suas pinturas. O texto conta as histórias destas mulheres. Algumas destas também atuavam como militantes e aqui se encontra uma descrição de suas atividades*. 

Primeiro ponto: observação desta obra
Olhe para essa imagem e me diga: 

1- O que ela parece: um desenho, um jornal? Uma revista? 
2- Que imagens são essas que aparecem na obra?
3- Pode ter texto em uma obra de arte? E porque tanto texto? Porque ele está cortado? O que será que está escrito nele? 


Olhando para o seu contexto: perguntas que podem gerar uma discussão sobre a obra de Lucena.

- No lugar onde você vive talvez não tenha gente do campo, ou talvez, sim. Mas há mulheres na sua casa? E o que elas estão fazendo? Elas fazem a mesma função todos os dias? Quais são? E elas são importantes? Por quê? 
- A gente pode considerar isso um trabalho? Se sim, tem algum trabalho que só as mulheres da sua casa fazem? Por que será?
Além do trabalho dentro de casa, que outras atividades elas fazem? Elas também são importantes?

Atividade:
1- Pegue (ou peça, caso você seja pequena/o) uma foto desta mulher. 
Se você não tem fotos, o exercício fica mais legal, ainda, porque você pode desenhar essa pessoa com o que tiver em casa. 
2- Embaixo dessa imagem você vai escrever sobre ela e a atividade que ela exerce:
- Pode ser as que são feitas dentro de casa e são importantes.
- Até as que são feitas fora dela**. 
3- Você pode repetir o exercício com outras mulheres que conhece e são próximas a você: tias, primas, professoras, amigas, enfim.... Em seguida, a ideia é colocar em uma parede da sua casa e fazer uma exposição dos trabalhos destas mulheres. 

(Essa ideia pode ser adaptada, dependendo do direcionamento que as perguntas tomem ou do espaço que seja realizada. Se for em um museu ou instituição cultural, é uma atividade que dura em torno de 30 a 40 minutos.)

Conclusão:
A ideia é discutir um pouco sobre a ideia de trabalho. Como essa é uma temática abrangente, o recorte aqui está no trabalho que é feito dentro de casa e entendido como “natural para a mulher”. Assim como Lucena considerava que a arte estava articulada às disputas políticas presentes na sociedade, em nosso contexto de quarentena temos visto, com constância, a ampliação de questões já existentes. No caso dos lares, a evidência desta sobrecarga de atividades, na maioria das vezes está sobre a responsabilidade da mulher, mas não são lidas como um trabalho e sim, como algo ligado a sua biologia, ou seja, a mulher ligada ao sistema reprodutivo, logo, estas são mantenedoras do processo produtivo dessa ideia de lar, sem que tenha reconhecimento social e econômico por isso.

Para conhecer a mediadora Lorrane Campos clique aqui


Referências

*Além disso, Lucena ia com frequência a lugares em que podia registrar ações de campesinos e trabalhadores lutando por seus direitos, para expressar seu apoio enquanto artista militante e capturar expressões, rasgos e traços que ela mais tarde transformava em obras de arte. Existe uma série de desenhos e pinturas da artista que retratam a luta dos campesinos e trabalhadores em suas reinvindicações e lutas pela terra.
**Pode até mesmo ser um exercício comparativo entre as atividades feitas pelos homens próximos a você e as mulheres. Fica como sugestão pra desenvolvimento da proposta.
Jaramillo, José. Un arte al servicio del pueblo: la obra de Clemencia Lucena desde la sociología de Pierre Bourdieu. Rev. colomb. soc., Volume 42, Edição 1, p. 271-291, 2019. ISSN eletrônico 2256-5485.

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